II. Os Reconhecimentos e Agradecimentos

Para dar conta do recado precisei aprender várias coisinhas. Mas o passo principal foi dado quando sob pretexto de montar o meu primeiro computador (aguardei longos anos para os preços descerem ao nível dos meus olhos. Obrigado, Bill, por convencer milhões de pessoas que não podem viver sem um PC) o meu amigo e o colega do Departamento, Genaldo Leite Nunes me contaminou com o entusiasmo pelo sistema Linux e pelo editor vim. Já que ele é um matemático competente (análise complexa) podia ser o meu guru não somente em questões do mundo un*x mas também um bom guia em software matemático e linguagens de programação. Se os materiais fossem meus, dedicaria a ele o livro eletrônico. Mas na escala (aprendida do N.Postman) de escriba – compilador – comentador – autor eu fico no nível dois mais epsílon; portanto a maneira que me sobra para mostrar o meu agradecimento é de fornecer para ele a primeira cópia deste CD-ROM.

A convivência com Paul James Otterson foi importante para mim ainda em Fortaleza, onde trabalhamos na UFCe – lá ele foi o meu paciente professor de windsurf. Quando o clima não ajudava, treinávamos o windsurf generalizado (sorvete com bananas). Já em Floripa ajudou-me várias vezes em problemas de análise quando a ensinava – é fácil de atolar em análise de Fourier mas Paul nada nela muito bem. Sempre achei que ele era um matemático normal – do tipo ao qual me acostumei em Wroclaw: podia visitá-lo às 11 da noite fazendo perguntas matemáticas, podia envolvê-lo em minha pesquisa mesmo que a curva dele poucas vezes se cruzasse com a minha. Só com tempo aprendi que o meu “normal” era uma raridade no Brasil.

Há mais uma coisa que eu lhe devo: no passado remoto costumava ler coluna da Wislawa Szymborska's em Zycie Literackie para obter indicações sobre mais surpreendentes livros que passavam desapercebidos pelos críticos bem-informados. Talvez a coluna dela não exista mais; mas hoje em dia posso chegar perto à escrivaninha do Paul e examinar os livros da camada externa do monte que está lá.

Paul ajuda-me com o meu inglês adormecido1. Prometeu fazer a correção da versão inglesa deste artigo. Se houver erros da língua, do pensamento, dos dados, de qualquer coisa – favor, culpem exclusivamente a ele.

Tenho aqui uma companhia de um outro matemático normal, Waldir Quandt. É um caso ainda mais surpreendente. Penso na amarga análise de Richard P.Feynman sobre os intelectuais brasileiros; a leitura de Surely You're Joking, Mr.Feynman! me ajudou a situar os problemas que enfrentava na convivência com os estudantes e com os colegas. É claro que a situação dos anos 80 e 90 não era idêntica à dos anos 50 – mas não era também tão diferente. Há os brilhantes cientistas, como Estevão Martins de Resende de Brasília ou meu colega do Departamento, Ruy Exel? Há, sim, mas sem contradizer a descrição de Feynman. Com qualidade universal e doutorados de instituições famosas do Exterior, desses (preciosos) exemplos já há um bom número no Brasil. Mas Waldir, mesmo conhecendo perfeitamente inglês e sendo um intelectual sofisticado que se situaria confortavelmente entre os meus amigos de Paris ou de Wroclaw, ele tem toda sua formação puramente brasileira e – acho eu – nem viajou para a Disneylandia ou outros centros culturais no exterior. Portanto, é uma prova viva que não existe alguma “maldição de Feynman” e que plantando nesta terra tudo pode dar certo sem os enxertos do estrangeiro.

Devo ao Waldir o meu fascínio pelo português. Ele me deve pelas noites de trabalho que me proporcionou com as suas perguntas geométricas aparentemente inocentes. Nós dois devemos ser uma tremenda chateação para nossos estudantes com a permanente insistência sobre a importância de minúsculos detalhes na formulação de locuções, seja matemáticas, seja versando sobre qualquer outro tópico.

Juntando esta coleção pensei sobre os nossos estudantes – uma biblioteca desse tamanho e qualidade pode satisfazer as suas necessidades profissionais durante longos anos (talvez durante múltiplas vidas) mas pensei também nessas três pessoas. A idéia foi de ter no mínimo cinco dedicados leitores – e “cinco” não é um número pequeno. Porque cinco? Pois conta também Jerzy Kocik – e eu.